Pracinhas de volta à paisagem
AYDANO ANDRÉ MOTTAA jóia
menos valorizada da coroa de monumentos cariocas encerra hoje uma longa
temporada de compulsória hibernação e, de roupa nova, volta à vida. O
Monumento aos Pracinhas - ele mesmo, ali, no meio do caminho, em pleno
Aterro - será reinaugurado após uma profunda reforma que consumiu dez meses
de trabalho, e, entre outras boas notícias, restaurou painéis históricos e
relíquias da Segunda Guerra Mundial que o tempo e a falta de recursos
estavam deteriorando. Agora, quer virar um must turístico.
Realizado sob comando da Funceb (Fundação Cultural
Exército Brasileiro, Ong criada para recuperar a memória das Forças
Armadas), o trabalho custou R$ 2,5 milhões, captados via Lei Rouanet e em
patrocínios de empresas como Petrobras e Banco Itaú. O projeto, agora, é
multiplicar as visitas, hoje congeladas em 3 mil pessoas por mês. Gatos
pingados, se comparados aos 60 mil privilegiados que, no mesmo período, se
deixa seduzir pela magia do Cristo Redentor.
À História, o grande serviço prestado está no mausoléu,
que fica no subsolo. Dez meses atrás, os restos mortais de 462 pracinhas
estava praticamente sendo tragado pela ação do mar ali ao lado. Encravado no
Aterro, o Monumento sofreu com a corrosão, a ponto de ameaçar os restos dos
heróis de guerra brasileiros. ''Encontramos isso aqui interditado, mas
conseguimos recuperar tudo'', orgulha-se o general Aguiar, integrante do
conselho da Funceb que chefiou o trabalho no monumento.
Broca - O Museu da Segunda Guerra Mundial, que fica em
frente ao lago e sob a construção imponente que se vê do Aterro, também foi
restaurado, e agora tem de volta a beleza do painel em afresco de Anísio
Araújo de Medeiros, que celebra a luta dos expedicionários e sua volta para
casa. ''Quando chegamos aqui, eles estavam infestados de broca, praga
semelhante ao cupim'', conta a restauradora Myriam Pereira, da Arte Cidade
Restauro, empresa responsável pelo trabalho. ''Tivemos de injetar veneno
contra nas frestas para depois reconstituir a obra''. Deu certo - entre
armas e troféus de guerra, o painel é o ponto alto do museu.
Pronto para a inauguração - hoje, às 18h, com presença do
vice-presidente Marco Maciel e do prefeito Cesar Maia -, o Monumento
Nacional aos Mortos na Segunda Guerra Mundial (seu nome verdadeiro) entra na
batalha para valorizar os personagens de um ponto pouco iluminado da
história brasileira. ''Somos um dos poucos povos do mundo que não cultua
seus heróis'', lamenta o general Aguiar, que invoca a visita que fez ao
Memorial de Pearl Harbor (um dos ícones mais doídos da memória de guerra
americana) para proclamar com firmeza de soldado: ''O nosso é muito mais
bonito''.
Vista de luxo
Os navios que aportaram na Praça Mauá a partir de 24 de
julho de 1960 passaram a encontrar uma surpresa na paisagem cinematográfica
do Rio de Janeiro. Lá no fim da Avenida Rio Branco, ergue-se um monumento
imponente, de 31 metros de altura, para transmitir as idéias de força e
heroísmo. Simboliza a saga da Força Expedicionária Brasileira, os pracinhas
que lutaram na Itália na Segunda Guerra Mundial.
Ocupando 6.850 metros na ponta do Aterro, o pórtico guarda
os corpos dos soldados trasladados do Cemitério de Pistoia, onde foram
enterrados inicialmente. Seu projeto, ousado para os padrões da época, é dos
arquitetos Hélio Ribas Marinho e Marcos Konder Neto. Mistura um lago com
quatro espelhos dágua, escadarias espetaculares e, no patamar superior, a
vista que junta, num único rodopio, o litoral de Niterói, o Pão de Açúcar e
o Cristo Redentor. Um resumo sublime dos cenários cariocas.
Foi nesta moldura majestosa que o papa João Paulo II rezou
missas campais em suas duas visitas ao Brasil, a última em 1997. |